
No trabalho as coisas melhoraram. Surgiu um novo projecto e fiquei com mais responsabilidade. A coisa tornou-se mais desafiante, e até fui convidada a ficar, mas no fundo sabia que aquilo "não era a minha praia". Em casa o João teve uma apendicite e, como se não bastasse menos um apêndice na população portuguesa, isso afectou um pouco a nossa rotina. Também o João entrou numa meia circunferência a descer, e bem mais rápida que a minha! Não deixou de ser uma experiência interessante fazer um tour por quase todos os hospitais de São Paulo em menos de 24 horas, mas as duas semanas de internamento vieram mudar o nosso quotidiano, quebrando a harmonia do dia-a-dia. Isso deu-me espaço para conhecer melhor outras pessoas e criar os primeiros laços p'ra valer no Brasil, além de também conhecer mais bancos de urgência que muitos brasileiros.
Marcela
A Marcela surgiu no timing certo. Víamo-nos todos os dias, mas só por esta altura resolvemos aproximar-nos uma da outra e trocar ideias. A dinâmica que se criou entre nós foi fantástica. Somos feitas da mesma matéria e compreendemo-nos como se nos conhecêssemos há anos. O papel dela no meu último mês em São Paulo foi crucial. Além de preencher a lacuna de uma amizade de igual para igual, trouxe-me a paz, estabilidade e sobriedade que estava a carenciar nos últimos meses. Entre conversas, pipocas, segredos, balas de hortelã, caronas, sushis, copy paste's, baladas, mamão com granola, risadas, lágrimas, tentativas falhadas de compras e muito mais, fomos mentoras espirituais uma da outra. Crescemos juntas a uma velocidade estonteante e ninguém conseguiu explicar a magia da nossa conexão. Nem mesmo nós. Obrigada brow, saudades de você amiga!
Choices
Em Julho entrei numa grande crise existencial que se alastrou até dezembro. Sabia que queria ficar no Brasil, mas não sabia como. Sabia que queria viver no Rio, mas não sabia a fazer o quê. Sabia que a decisão que tomasse teria impacto na minha vida e seria irreversível, como todas as escolhas que fazemos em etapas importantes da nossa vida. Então, o acaso trouxe-me a oportunidade de reflectir sobre isso com calma e ofereceu-me um trabalho numa agência de publicidade no Rio de Janeiro. Sabia que não era um trabalho para a vida, mas me daria o tempo e estabilidade necessários para pensar no próximo passo sem me precipitar. Logo de seguida soube da amnistia para estrangeiros, que vinha tornar possíveis mais dois anos no Brasil sem problemas de visto.
Rio de Janeiro
Mudei-me para o Rio e a certeza de que não queria abandonar este país tão cedo ficou cada vez mais clara. Não gosto de comparar as duas cidades, até porque, de facto, não têm nada que possa ser comparado. São completamente diferentes na sua essência. seria como comparar fruta e picanha. Ambas deliciosas, mas para apetites distintos. São Paulo é São Paulo, no seu estilo urbano, atropelado por um quotidiano stressante de carros e trabalho, bons restaurantes, luxo, bares e lojas de perder a cabeça.
Rio é A cidade maravihosa. Não dá para passar um dia sem contemplar uma vista, sem pensar "esta cidade é linda". E, como se não bastasse a sua estética quase perfeita, respira-se no ar uma energia positiva contagiante. As pessoas são bem-humoradas e encaram a vida com um sorriso rasgado na cara. Por mais pobreza e desgraça que as assombrem, aqui a vida aproveita-se de outra forma. Cada momento é abraçado com tudo o que de bom cada um tem para dar. Vive-se com paixão e como se não houvesse amanhã. Claro que também tem o seu lado menos bom, mas isso fica para outro post.
Agência